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Policiais investigados por matar adolescente por engano na Grande Fortaleza vão ser levados a júri popular

Pedro Kauã Moreira Ferraz, de 15 anos, morreu em novembro de 2023 após ser atingido por um tiro disparado por um militar. Ele saía do quintal de casa em busc...

Policiais investigados por matar adolescente por engano na Grande Fortaleza vão ser levados a júri popular
Policiais investigados por matar adolescente por engano na Grande Fortaleza vão ser levados a júri popular (Foto: Reprodução)

Pedro Kauã Moreira Ferraz, de 15 anos, morreu em novembro de 2023 após ser atingido por um tiro disparado por um militar. Ele saía do quintal de casa em busca de um cavalo quando foi baleado. Vídeo mostra policiais negando socorro a adolescente que morreu ao ser baleado por engano Os policiais militares Flávio Alves da Costa e Leon Lawson Soares Ramos vão ser levados a júri popular. Eles são acusados de homicídio e omissão de socorro do adolescente de 15 anos Pedro Kauã, bem como por homicídio tentado, tortura, coação e fraude processual. O adolescente foi morto em novembro de 2023, no município de São Gonçalo do Amarante, na região metropolitana de Fortaleza, quando saía do quintal de casa em busca de cavalo. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Ceará no WhatsApp A suspeita é que os policiais tenham atirado em Pedro Kauã Moreira Ferraz por engano, durante as buscas por um criminoso. Também vão ser levados a júri popular os policiais Anastácio Warney Menezes Pedrosa e Vanderson Luiz Pinheiro Alves por envolvimento em crimes ocorridos no mesmo local. LEIA TAMBÉM: Policiais acusados de matar jovem baleado por engano consideraram adulterar arma para tentar dificultar perícia Filho de policial morre em ataque a tiros em estacionamento de supermercado no Ceará Eles foram presos em abril de 2024, e devem continuar detidos preventivamente, conforme a Justiça do Ceará, até o julgamento para a garantia da ordem pública. De acordo com a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE), no dia 27 de novembro de 2023, por volta das 18h, o adolescente e sua família estavam em casa quando ele correu para pegar um cavalo que havia se soltado. Antes de sair da propriedade, Pedro Kauã teria sido baleado nas costas pelos policiais Flávio e Leon. Ainda segundo o MPCE, a vítima teria sofrido coação física e psicológica por parte dos quatro acusados. Na ocasião, outra vítima, identificada como Carlos Vitor, saiu de casa para ver o que estava acontecendo e foi atingido pelos policiais. Flávio Alves da Costa e Leon Lawson serão submetidos a júri popular por participação no homicídio consumado e na omissão de socorro de Pedro Kauã, por participação no homicídio tentado de Carlos Vitor, tortura em relação a uma outra vítima, bem como coação no curso do processo em relação a testemunhas oculares, além de fraude processual. Policiais não socorreram adolescente de 15 anos que morreu após ser baleado por agente. Reprodução Já Anastácio e Vanderson foram pronunciados por participação na tentativa de homicídio de Carlos Vitor, tortura em relação a uma outra vítima, coação no curso do processo em relação a testemunhas oculares, e por omissão de socorro em relação a Pedro Kauã. A defesa dos PMs alegou que os tiros foram efetuados em legítima defesa, durante operação policial para localizar um carro que transportava drogas. No entanto, ao analisar os fatos, o juiz Francisco Marcello Alves Nobre entendeu que “não ficou demonstrado disparos de arma de fogo por parte de outras pessoas que não sejam os policiais militares”. Ao analisar a autoria delitiva, o magistrado entendeu que “os indícios estão amplamente verificados, já que a presença de todos os denunciados no sítio dos crimes encabulados, foram reconhecidas pelas testemunhas oculares, pelas testemunhas ouvidas que não nega, que os acusados estivessem no local do delito e pelos próprios réus que reconhecem que estavam realizando uma operação policial naquele local”. Policiais consideraram adulterar arma Os policiais militares consideraram alterar o "raiamento" (característica interna do cano) de uma arma para tentar burlar a perícia do caso. O g1 teve acesso a um relatório feito pela Polícia Civil, através da Delegacia de Assuntos Internos, que analisou conversas, em um aplicativo de mensagens, trocadas pelos quatro militares envolvidos no caso, em um grupo criado um dia após a morte do adolescente. Um advogado também fazia parte do grupo — adicionado no dia 12 de dezembro de 2023. LEIA TAMBÉM: Policiais negam socorro a adolescente baleado por engano durante ação da PM no Ceará; vídeo Policiais acusados de matar jovem baleado por engano vão responder por homicídio, tortura e fraude processual No grupo, os militares se mantinham informados sobre a repercussão do caso. No dia 28 de novembro, um deles falou que a Delegacia de São Gonçalo do Amarante solicitou as armas usadas no caso. Assim, outro policial levantou a possibilidade de alterar uma característica interna da arma para tentar burlar a perícia das armas. "Se desse para mudar a raiação", enviou um dos policiais. Policiais acusados de matar jovem baleado por engano consideraram adulterar arma para tentar dificultar perícia. Reprodução Quando um projétil é disparado, a arma deixa ranhuras na munição. Essas marcas podem ajudar a identificar de qual arma saiu aquela bala. Alterando o raiamento de uma arma, pode-se dificultar a conclusão da análise laboratorial para identificar qual arma utilizada em um disparo. "A possibilidade que ele ventila seria colocar algum objeto dentro do cano e gerar outras ranhuras, o que a perícia poderia reduzir a capacidade de identificar com máxima certeza de que aquela munição que saiu da arma no laboratório, de fato, é a arma que gerou o disparo original", explicou o perito Marcos Monteiro. O perito explicou ainda que é possível identificar caso o raiamento de uma arma seja adulterado, pois um microscópio pode mostrar que as ranhuras feitas propositalmente são recentes. Dois policiais foram denunciados pela morte do adolescente e outros dois por tentativa de homicídio contra os criminosos que estavam sendo seguidos pela equipe. A defesa desses dois últimos disse que não vai se posicionar sobre o caso, uma vez que os clientes não são denunciados pela morte de Pedro Kauã. Já o advogado Delano Cruz, que representa os dois acusados pela morte do adolescente, alegou que a mensagem enviada no grupo foi tirada de contexto, e que o policial se referia a outro caso. "Na época, nós pedimos que essa análise fosse remetida à Polícia Federal. Lá, foi constatado que não houve alteração nenhuma", disse. "Nesse processo de São Gonçalo, está provado, através de perícia, que só existe a possibilidade de ter sido usado o fuzil 556 ou uma [pistola] .22. A Polícia só estava usando um; o fuzil 556. O projétil que foi tirado do corpo da vítima, diz-se que é inconclusivo, que não dá para dizer de qual arma saiu aquela munição", complementou. Resgate de cavalo Pedro Kauã foi baleado após sair de casa para resgatar o cavalo. Arquivo pessoal Conforme familiares, Pedro Kauã estava na casa da avó com a família quando foi informado que o cavalo dele havia saído da propriedade. Ao sair no quintal em busca do animal, o jovem foi baleado por um agente, que atendia uma ocorrência nas proximidades do imóvel. "Ele estava jantando quando minha irmã disse assim: 'Pedro Kauã, teu cavalo soltou'. Ele imediatamente saiu correndo para alcançar o cavalo do outro lado da rua. Quando dei fé a gente ouviu uns papocos de tiros. Aí lá vem meu filho correndo com a mãe no peito. Eu disse: 'Meu filho, o que foi isso?' E ele disse: 'mãe, foi a polícia'", falou a mãe do adolescente. À época, a Polícia Militar não confirmou que o tiro que matou o jovem foi disparado por policiais. A corporação disse apenas que apreendeu arma e droga durante uma ocorrência no local e "no decorrer das diligências, os policiais foram informados que um adolescente foi atingido durante a troca de tiros". A família do garoto informou que ele não estava armado e não se envolveu em troca de tiros. A corporação não respondeu sobre a denúncia de omissão de socorro ao adolescente por parte dos agentes. Adolescente de 15 anos morre baleado por policial no Ceará Assista aos vídeos mais vistos do Ceará: